Autor da Opinião – Duarte Cardoso
Crítica ao sistema escolar
Antes de começar a crítica gostaria de informar ao leitor, que o escritor é um aluno do 11º ano do sistema escolar português e irei falar do que eu presenciei e de o que eu pesquisei. Nesta crítica, não irei abordar os cursos profissionais nem o ensino superior pela minha falta de conhecimento nessa matéria.
Para começar gostaria de lançar um desafio ao leitor. Pesquise como é que era a estrutura de uma sala de aula há 150 anos e compare-a com a estrutura atual. Se olhar com atenção irá perceber que a única coisa que mudou é que a foto de há 150 anos é a preto e branco e a atual é a cores. Em ambas as fotos encontrará alunos sentados em mesas organizadas em fileiras viradas para a mesa do professor, encontrará também em ambas as fotos alunos com mão levantadas a pedir ordem para falar e se a foto que estiver a ver não for uma foto de revista irá ver alunos que na grande maioria não têm vontade de estar naquele lugar. Com esta informação peço ao leitor que reflita sobre todos os avanços tecnológicos que fizemos no último século e meio, e que compare com os avanços que fizemos na estrutura de uma sala de aula.
O sistema escolar atual foi criado há aproximadamente 150 anos para suprir a necessidade de educar as camadas mais jovens da sociedade para poderem trabalhar nas fábricas. Nessa altura, os alunos tinham poucos intervalos, cuja funcionalidade era para que as crianças não morressem à fome dentro das salas de aula, tinham de levantar a mão para pedir o direito à fala, quando cometiam algum erro eram humilhados publicamente e eram agredidos e eram educados para uma coisa única, trabalhar. A escola atual teve algumas breves mudanças, como foi proibida a agressão e humilhação dos alunos, e agora em vez de ser apresentada como um mecanismo de educação para o trabalho apresenta-se como um mecanismo de proliferação de conhecimento. As mudanças feitas foram poucas, não suficientes para acompanhar o ritmo da evolução humana, e isso é notável de variadas formas. Só tocando num ponto, grande parte do equipamento atual das escolas está desatualizado há pelo menos uma década.
Abordando agora os profissionais da educação (assistentes operacionais, assistentes técnicos e docentes), o que é possível abordar é que a idade média desses mesmos profissionais tem vindo cada vez mais a aumentar, fazendo com que fiquem cansados, e trabalhar no meio da educação é um trabalho bastante desgastante fazendo com que os mesmos fiquem cada vez mais exaustos e até infelizes com a escolha de trabalho que tomaram. Essa infelicidade e exaustão irá ser, obviamente, refletida no trabalho que efetuam, afetando diretamente os alunos, que poderão ficar desmotivados e sem vontade de prosseguir com os seus estudos. Um professor ou um funcionário pode moldar o aluno, ainda mais nas idades mais tenras, fazendo com que um aluno que até poderia ser um grande profissional numa certa zona nunca o venha a ser, pois teve o azar de apanhar um profissional da educação que o desmotivou, ou por estar cansado e o seu rendimento não ter sido o melhor, ou pela sua desmotivação na profissão. Este envelhecimento deve-se muito ao aumento constante da idade de reforma de tais profissionais. O leitor pode argumentar que a idade da reforma destes profissionais é alta, pela falta dos mesmos. De facto, existe uma grande falta de profissionais ligados à educação, mas o aumento da idade da reforma não deveria ser a primeira opção para solucionar este problema, mas sim tornar tais profissões mais apelativas aos jovens, aumentando o número de benefícios de tais profissões e resolvendo os problemas que nelas persistem.
O currículo escolar atual também se encontra bastante desatualizado e não se adapta às diferentes realidades e necessidades do mundo atual. Considero que o currículo do 1º Ciclo se encontra bastante bem constituído para o nível de ensino ao qual é direcionado, mas daí para a frente considero que já esteja desleixado e que deveriam ser tomadas medidas para o transformar face ao que é exigido pelo mundo atual. No ensino básico, após o 1º Ciclo, começam a aparecer várias falhas, como a não existência de qualquer menção de uma disciplina relacionada com economia, em contraste do que acontece com as outras disciplinas específicas dos cursos apresentados no ensino secundário (como mencionado anteriormente no prefácio não irei abordar cursos profissionais), causando tanto um mau preparo para quem queira seguir tal área, como uma falta de literacia na nossa população que já se vem verificando desde há muito tempo. Quando entramos no ensino secundário, os problemas tornam-se cada vez mais evidentes, por tal irei abordar cada disciplina e as suas diversas falhas. A Português deparamo-nos com um currículo que pouco muda, principalmente no domínio da gramática no qual não se verifica nenhuma mudança do ensino básico para o secundário, proponho então que ao invés de se continuar a ver a mesma coisa pelos três anos restantes na educação do aluno, ser substituído por um domínio da oratória, onde se ensinaria o aluno a ter um bom discurso, vasto nas suas diferentes formas. Na disciplina de Filosofia, são abordados temas já desatualizados, e são abordados de forma a que o aluno acabe por não conseguir formar uma opinião crítica acerca de tal assunto, tal vai contra um dos domínios da disciplina que é o pensamento crítico, e o próprio currículo pouco desenvolve a argumentação do aluno, forçando-o a aceitar aquilo e não podendo contra-argumentar e criar os seus próprios argumentos; para resolução de tais problemas sugiro que os temas abordados sejam temas mais atuais, como por exemplo “Qual o sistema econômico mais adequado?”, e esta mesma disciplina ser avaliada através de debates, cujos iriam melhorar tanto a capacidade de argumentação e pensamento crítico do aluno, como o iriam beneficiar no requisito de perder o medo de falar em público. Em Biologia e Geologia, que são duas ciências bastante práticas, existem muito poucos momentos propostos tanto pelo currículo como pelos diferentes manuais, de atividades práticas ou saídas de campo para a aplicação dos conhecimentos que são abordados dentro da sala de aula, causando lacunas no conhecimento prático do aluno, podendo até ter como consequência fazer com que as aulas fiquem muito entediantes, causando o desinteresse do espectador. A Física e Química, existem variados temas de grande importância que ficam de fora do programa anual, como por exemplo na parte da Física, a astronomia, ciência que baseou grande parte das teorias na área previamente mencionada. Em História, tudo após a queda da Primeira República e a instauração da Ditadura Militar é abordado de uma forma bastante superficial, principalmente quando se fala a nível nacional, deixando de parte alguns feitos pelos variados integrantes desse período da história. Todas as disciplinas que não foram mencionadas antes, foi, pois, após minha consideração cheguei à conclusão de que não existem falhas notáveis, exceto por uma que é comum a todas.
A falha a que me refiro no final do parágrafo anterior é no processo de “avaliação de conhecimentos” que avalia a capacidade de memorização do aluno, não o seu efetivo conhecimento. Peço ao leitor que me deixe clarificar com um exemplo: Um aluno, uma ou duas semanas antes de um momento de avaliação, toma o manual dessa disciplina para as mãos e começa a ler, até conseguir decorar na íntegra a matéria lá presente, o mesmo chega ao dia do teste e acaba por tirar uma nota de valor alto. Agora o leitor questiona-se onde é que eu pretendo chegar, e eu dou-lhe uma resposta, se chegar a este mesmo aluno, uma semana após o momento de avaliação de conhecimentos, e lhe fizer uma pergunta sobre os temas abordados nesse teste sumativo de conhecimentos, o mais provável é que esse mesmo aluno não lhe consiga responder. Em contrapartida, alunos que são excelentes nas aulas, participativos e que demonstram esse conhecimento podem chegar a esse teste e tirar uma nota menos boa. Um aluno que pode ser brilhante numa determinada disciplina pode não ter os melhores resultados, pois o sistema de avaliação de conhecimentos não avalia o real conhecimento do aluno, mas sim, como já previamente demonstrado, a capacidade de memorizar de um aluno, o que não implica aprendizado.
Com este problema surge ainda outro, que é aquando da entrada para o ensino superior o aluno perde o estatuto de pessoa e passa a tomar o estatuto de número, no caso a média de finalização do ensino secundário, que conjuntamente com o que foi mencionado no parágrafo anterior, mostra que a entrada numa determinada universidade não depende necessariamente dos conhecimentos do aluno.
Continuando no assunto da avaliação do aluno, abordo agora os exames finais, que são executados no 9º, 11º e 12º anos de escolaridade. Estes momentos de avaliação, que se contados para nota interna determinam 25% do resultado final daquele aluno na determinada disciplina, padecem do mesmo problema que os testes e da falta de adaptabilidade a pessoas com certos tipos de problemas, nomeadamente os associados ao foro da atenção ou da ansiedade fazendo com que alunos que sejam diagnosticados com esses problemas, apesar das diversas medidas de suporte à aprendizagem e avaliação do aluno, estejam em desvantagem perante o resto dos alunos. Adiciono ainda que a existência de exames obrigatórios faz com que alunos que não necessitem da disciplina, no caso a disciplina de Português, e que não iriam fazer o exame a essa disciplina arrisquem-se a baixar a média interna, prejudicando-os no seu futuro académico.
Virando-nos agora para as novas tecnologias, o uso das mesmas é deveras pobre, quando direcionado para a educação, não por falta de recursos, mas sim, porque a grande maioria dos docentes não têm o conhecimento para as usar, tal adicionado a problema da desatualização de grande parte do material eletrónico que já foi ultrapassado há muito tempo, faz com que aulas que poderiam ser mais interativas com os alunos, acabem por ser um professor à frente da sala a debitar matéria e os alunos a ouvirem, causando desinteresse na disciplina.
Tudo o que foi mencionado anteriormente contribui não só para o aumento da taxa de abandono escolar, para a diminuição dos resultados gerais dos alunos e para o desinteresse na educação, que é bastante visível nas gerações mais novas em que ir para a escola passa a ser uma obrigação e não uma coisa que é feita pelo gosto de aprender. O desgaste também se reflete nas camadas docentes e não docentes, criando cada vez mais desinteresse nesta área de emprego.
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