O Processo Complexo da Transição de Ciclo e Mudança de Escola na Perspetiva da Criança - PsicoSoma

 


Artigo da PsicoSoma

A transição entre ciclos deve ser percebida pela criança como uma oportunidade de crescer, aprender novas habilidades e alcançar um novo estatuto. Este processo envolve ir para um ambiente desconhecido, avançar, evoluir e se desenvolver, facilitando sua adaptação a novas experiências.

As transições escolares referem-se às mudanças de ciclo ou nível de ensino que os estudantes encontram ao longo de sua trajetória académica. A cada novo nível ou ciclo, eles enfrentam currículos com maior complexidade, maior grau de abstração e maior diferenciação entre as disciplinas, além de uma crescente especialização nos papéis dos adultos e nos serviços oferecidos pela escola.

A transição de ciclo escolar é um fenómeno complexo que comporta diversas descontinuidades e implica transições diferentes (Abrandes, 2009; Measor & Woods, 1984). Abrantes (2009) destaca cinco, também referidas na generalidade da literatura:

  • De regime curricular, pedagógico e disciplinar
  • De estabelecimento de ensino
  • De grupo de amigos
  • De estatuto social
  • De posição ocupada nos grupos/redes sociais.

Conforme destacado no livro “A Integração Escolar das Crianças na Transição de Ciclo”, a passagem do 1º para o 2º ciclo envolve mudanças significativas, como a introdução da pluridocência e a especialização dos conhecimentos disciplinares. Além disso, há um aumento na complexidade e abstração da linguagem específica de cada matéria, bem como uma maior especialização nos papéis desempenhados pelos diferentes profissionais e nos serviços oferecidos pela organização escolar.

Armanda Zenhas, autora do livro A Integração Escolar das Crianças na Transição de Ciclo, define integração escolar “como o processo de exploração da nova realidade escolar, decorrente da transição de ciclo/nível de escolaridade e/ou escola, ao longo do qual crianças e jovens vão produzindo sentidos e se vão construindo como sujeitos competentes para agirem de forma intencional e estratégica de acordo com os seus objetivos e recursos, na sua nova condição de alunos de um novo ciclo/escola, nas várias situações e papéis que ela implica”.

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O livro A Integração Escolar das Crianças na Transição de Ciclo, tem uma perspetiva aprofundada, inovadora e fundamentada da integração escolar, testemunhando a experiência e a agência das crianças no seu primeiro ano na nova escola, face às grandes e variadas mudanças que a transição de ciclo acarreta, analisada com recurso a estudos e textos teóricos de diversas áreas da sociologia e das ciências da educação. A publicação desta obra tenciona fornecer uma ferramenta e material para investigadores, diretores de turma, professores, formadores de professores, dirigentes escolares e decisores políticos na área da educação poderem atender e lidar com a temática da integração dos alunos na escola.

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A autora Armanda Zenhas, ao longo de seu estudo, faz diversas reflexões, uma das quais está relacionada com a "linguagem silenciosa do espaço". Segundo ela, essa linguagem levava as crianças mais novas a se protegerem de interações sociais com os alunos mais velhos na área formal da escola, onde as regras eram mais rígidas e, por isso, evitavam essas zonas. A preferência por locais como a fila da papelaria e o afastamento de áreas mais informais indicavam claramente a falta de integração dessas crianças no seu novo estatuto social como "os mais novos" e revelava uma ausência de competências sociais (ainda não adquiridas) que as impediam de se sentirem à vontade nessa nova realidade.

Os conceitos de transição e integração são multidimensionais e entrelaçam-se de maneiras diversas. Esses processos ocorrem de forma paralela, em ritmos que podem coincidir ou divergir, variando em cada dimensão ou em suas interações. Tanto as transições quanto a integração envolvem e são influenciadas por diferentes espaços, dentro e fora da escola, com destaque para o ambiente familiar das crianças. Considerando-as como protagonistas, esses processos também envolvem e são moldados por diversos atores, como membros da escola, família e comunidade. As inter-relações que surgem desses contextos são igualmente complexas e variadas. Enquanto a transição e a integração escolar contribuem para uma reconfiguração da identidade das crianças, a sua participação ativa nesses processos também provoca mudanças na estrutura da escola, como na definição de regras e na maneira como elas são aplicadas.

As várias formas de integração que constituem o conjunto da integração escolar não ocorrem ao mesmo ritmo dentro da turma. As diferentes dimensões desse processo resultam em experiências que são vividas pelas crianças de maneiras únicas, caracterizadas por emoções, representações e ações bastante distintas. Ao enfrentar os desafios e obstáculos, cada criança reage de forma diferente, o que aciona suas capacidades e iniciativas de maneira individualizada. A autora Armanda Zenhas, destaca no seu livro “A Integração Escolar das Crianças na Transição de Ciclo”, três vertentes encontradas no estudo realizado:

  • A integração curricular, decorreu rápida e harmoniosamente, tanto no domínio curricular como no para-curricular
  • As crianças reconfiguraram rapidamente o seu ofício de alunas e assumiram-no agencialmente, ativando recursos adquiridos no seu meio familiar e adquirindo novos recursos e instrumentos proporcionados nas aulas e na escola.
  • A estruturação das atividades para-curriculares concedeu às crianças oportunidade de descoberta, consolidação ou reconfiguração de dimensões identitárias individuais e grupais.
  • A integração nos espaços da escola foi dificultada pela imposição das regras de ocupação e circulação, ampliando os receios e a procura de refúgio.
  • A integração social fez-se a compassos distintos e contraditórios. Através do investimento em eventos culturais na escola, as crianças começaram a ver-se generalizadamente reconhecidas pelo seu talento e a sentir-se mais confiantes no ambiente da escola.

As crianças encontram na família e em membros da escola um suporte fundamental que oferece as condições necessárias para o desenvolvimento da sua autonomia e iniciativa ao longo do processo de integração e durante todo o ano letivo.

Destaca-se a importância de valorizar a experiência das crianças durante a fase de transição escolar, sublinhando a necessidade de oferecer-lhes uma vivência positiva nesses processos de transição e integração. Além disso, defende-se a importância de permitir que as crianças exercitem a sua autonomia e iniciativa ao longo dessa experiência de integração.


Referências Bibliográficas

Abrantes, P. (2009). Perder-se e encontrar-se à entrada da escola: Transições e desigualdades na educação básica. Sociologia, problemas e práticas, 33-52

Zenhas, A. (2022). A Integração Escolar das Crianças na Transição de Ciclo. Viseu. PsicoSoma

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